«Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual.
Ser real é isto.»
Alberto Caeiro
Porquê voltar agora, ou em qualquer outro momento dos últimos dois anos, aliás, a uma blogosfera tão diferente daquilo que já foi?
Porque me apetece, pronto. Porque em muitos momentos dou comigo a ter saudades do ritual nem sempre diário, mas quase, de deitar dedos ao teclado para debitar coisas que apenas a um muito moderado número de pessoas interessariam, com muitos disparates pelo meio, bastante galinhice, alguma mordacidade de vez em quando e troça amigável com alguma frequência. E porque também dou comigo a ter saudades da interacção que um blogue gera.
É certo que conservo preciosamente amizades feitas na blogosfera e que mantenho um contacto diário e muito activo com meia dúzia de pessoas das quais, actualmente, só duas mantêm o blogue. As restantes, e por razões variadas, têm presentemente os blogues parados. E sinto falta deles.
Ontem, a jantar com um histórico da blogosfera (blogue permanentemente actualizado desde 2003, os meus quase onze anos empalidecem perante o fulgor dos seus extraordinários 14), milhares de páginas de muito boa escrita, ele foi definitivo: o Facebook matou os blogues. Ri e cantarolei o refrão da música dos Buggles com arrancou a MTV, Video Killed The Radio Star. Mas só concordo parcialmente. É certo que o Facebook deu uma valente machadada na blogosfera, e que depois o Instagram veio dar uma ajudinha (sei de um blogue há muito parado cujo autor vai lá escrevendo coisas bem jeitosas). O Twitter, tão caro às celebridades estrangeiras, pela sua própria essência nunca constituiu ameaça, e só há poucos meses e por razões profissionais reactivei a minha conta.
Tenho para mim que o que deu cabo de muita da blogosfera de que eu mais gostava foi a publicidade nos blogues. Aprovo que cada um ganhe a vida como puder e como melhor lhe aprouver. Não prejudica ninguém e é a tal coisa, ninguém lá vai porque lhe apontam uma pistola à cabeça. Que as autoras dos blogues com maior visibilidade muitas vezes tentem disfarçar que estão a receber bom dinheirinho para falar deste ou daquele produto já é outra conversa, mas nem vou ocupar-me disso. Os tais posts publicitários têm em mim perversamente o efeito contrário ao pretendido, e lembro-me de não ter comprado durante meses qualquer produto da marca Mimosa na sequência da saturação de bloggers que, só para lhe publicitar um leite sem lactose, desataram em simultâneo a contar patranhas de intolerância, própria ou de familiares mais ou menos chegados, à pobre dita.
Por último, e a coisa que provavelmente mais desfigurou a blogosfera em que me movimentava, temos o aparecimento dos clubinhos de blogues, alguns declaradamente dedicados àquilo a que só posso chamar bullying, e assisti a coisas verdadeiramente feias e que, nalguns casos, chegaram a atingir seriamente os alvejados. Em torno de dois ou três blogues reúne-se um grupinho de comentadores aí com uns 98% de anónimos, e vai de achincalhar sem dó nem piedade e, devo dizer, também sem qualquer ponta de graça, meia dúzia de blogues. Depois os blogues cabecilhas batem-se muitas palminhas entre si, citam-se uns aos outros, copiam-se uns aos outros e ficam todos muito contentinhos com a devastação que lhes deu tanta animação às caixas de comentários. Quase todos aparentemente anónimos, está bom de ver. E siga para bingo. Isto é, para a próxima vítima.
O título deste post? Pues que comecei a estudar espanhol, e tenho consumido doses avantajadas de séries de televisão (lá iremos) e de filmes de Almodóvar.